As histórias reais da Série Senna – Episódio 5

Data:
10 de dezembro de 2024

|

Tempo de leitura:

9 minutos

Enquanto o ano de 1988 representou a grande conquista do sonho do título mundial para Ayrton Senna, a temporada seguinte foi uma das mais intensas para o brasileiro. Além da rivalidade a flor da pele com o companheiro de equipe, Alain Prost, na McLaren, a forma como Senna perdeu a chance de lutar pelo bicampeonato foi um duro golpe nas fortes convicções do piloto.

Atenção: a partir de agora, você vai ler informações que descrevem alguns momentos da série.

Episódio 5 – Herói

Além de desclassificar Senna do GP do Japão de 1989, tirando uma vitória conquistada de forma limpa na pista e a chance de brigar pelo título, a FISA dirigida pelo francês Jean-Marie Balestre ainda obrigava o brasileiro a pedir desculpas por suas fortes críticas à entidade. Sem esta carta, o brasileiro não teria a Super Licença para competir em 1990.

Saiba aqui mais detalhes sobre a história.

Outro detalhe da história real que é retratada no episódio 5 da série é que, de fato, a McLaren chega a inscrever provisoriamente o piloto de testes, Jonathan Palmer, como titular para 1990 ao lado de Gerhard Berger, enquanto não havia definição sobre Senna. E também é retratado um fato curioso: o brasileiro em sua carta mostra que segue acreditando em suas convicções, mas Ron Dennis acaba contornando a situação com a FISA e garante Senna no campeonato.

Em meio a tantas polêmicas, Balestre vai a São Paulo para o GP de 1990 e leva uma das maiores vaias da história da F1 – a cena é exibida na série ao retratar o dirigente em Interlagos em uma das aparições no ano seguinte.

E foi na torcida brasileira onde Senna encontrou forças para vencer o sistema. Embora o personagem “Marcelo Silva” seja fictício com sua carta para o brasileiro, era comum Senna ter o costume de ver algumas de suas correspondências de fãs e sua mãe, Neyde, arquivava as melhores – inclusive no Senna TV mostramos uma delas que foi guardada por mais de 25 anos e entregue a Luciano Tsuda, que se tornou cinegrafista no Japão:

E é claro que nem sempre a torcida de outros países estava a favor de Senna, como retratado nos primeiros episódios que se passam na Inglaterra. Um embate emblemático é retratado no episódio 5, com Senna vencendo o GP de Monza em 1990, superando o rival Alain Prost e também os milhares de torcedores da Ferrari.

O triunfo foi importantíssimo para o bicampeonato, com Senna chegando aos 72 pontos, contra 56 do francês. E uma curiosidade: a vitória também garantiu um prêmio inédito para o brasileiro: o carro da própria vitória, o chassi de número 6 usado pela McLaren naquele ano, com o modelo MP4/5B, após vencer uma aposta com Ron Dennis que venceria o GP mesmo na corrida onde a Ferrari era considerada favorita. Atualmente, este modelo está exposto na sede da Senna Brands e do Instituto Ayrton Senna, em São Paulo.

Com isso, Senna chega novamente a Suzuka lutando pelo título, pela terceira vez consecutiva na carreira. Desta vez, o cenário é invertido ao de 1989 – quem precisa vencer para adiar a disputa é Prost. Caso os dois não marquem pontos, Senna seria campeão. O brasileiro faz a pole, mas, ao contrário do que fora acordado com os comissários, a FISA mantém o lado da pole na pior parte da pista, que é mais suja, por ser fora do traçado.

A luta de Senna contra o “sistema” é cada vez mais evidente e ganha contornos cinematográficos quando a questão da chicane de Suzuka é levantada no briefing. Nelson Piquet argumenta que no ano anterior teve toda a confusão e que é muito mais perigoso voltar na contramão e que o mais seguro é passar pelos pneus por dentro da chicane.

Todos concordam e Senna se revolta: o diálogo retratado na série é idêntico ao que aconteceu na vida real – e pode ser visto no documentário “Senna”, de Asif Kapadia, lançado em 2010 e também disponível na Netflix. Já a personalidade autoritária de Balestre também é retratada com a frase “The best decision is my decision” (a melhor decisão é a minha decisão).

Embora tivesse ficado claro que a batida em Prost em Suzuka em 1990 era um revide ao que acontecera em 1989, Senna foi bastante criticado pela imprensa, sobretudo na mídia britânica – o questionamento do tricampeão mundial Jackie Stewart levou inclusive Senna a falar uma de suas mais famosas frases sobre comportamento de piloto: “se você não busca mais o espaço, então você não é um piloto” – Jackie falou sobe o tema no Senna TV.

O episódio “Herói” também traz algumas imagens de Senna em família, inclusive trazendo os presentes para os três sobrinhos. “A gente brincava que, quando ele chegava, parecia o Papai Noel chegando, sempre com novidades, principalmente quando vinha do Japão”, diz Bianca Senna. O cuidado de Neyde Senna com as matérias sobre o seu filho também é retratado no episódio, e assim é feito até hoje pelo Memorial Ayrton Senna, como explicado neste vídeo de Julia Lalli ao Senna TV:

O gesto de erguer a bandeira brasileira para dividir a vitória com a torcida também é retratada neste episódio 5, e ela teve início na vitória de Detroit em 1986, com a Lotus.

E com certeza algumas das matérias mais memoráveis são do GP do Brasil de 1991. Parece enredo de filme de Hollywood, mas foi de fato desta forma sofrida que Senna venceu sua primeira corrida de F1 em solo brasileiro. Após abrir mais de 40 segundos de vantagem, o câmbio da McLaren apresentou falhas até ficar preso na sexta marcha – o que parecia impossível para completar a corrida.

A euforia da torcida, que inclusive se concentrava na casa dos Senna na zona norte de São Paulo, também era comum naquelas épocas de vitória. E o desejo de Ayrton de fazer a diferença na vida de milhares de brasileiros em uma conversa com Viviane Senna foi o embrião da criação do Instituto Ayrton Senna, em 1994.

O episódio 5 fecha com a conquista do tricampeonato, mais uma vez em Suzuka, desta vez enfrentando a Williams de Nigel Mansell. É verdadeiro também que Senna abriu mão da vitória para que seu companheiro de equipe, Gerhard Berger, pudesse vencer seu primeiro GP pela McLaren.

Apesar do domínio da Williams nos anos seguintes, em 1992 e 1993, o episódio também mostra momentos épicos de Senna, como sua segunda vitória em Interlagos, quando superou a Williams de Prost e Hill, que eram até dois segundos por volta mais velozes na pista seca. O brasileiro não consegue o quarto título – ele até tenta ir para a Williams, mas, como é retratado na série, Prost veta a contratação do brasileiro, que só viria acontecer após a aposentadoria do francês, ao final de 1993 e abrindo a vaga para Senna em 1994.

Texto produzido originalmente para o site Senna.com por Rodrigo França.

Like it?
Share on social media

FAÇA PARTE DA
NOSSA

COMUNIDADE