Depois do grande sucesso da série “Senna” na Netflix, outra superprodução audiovisual faz nova referência ao piloto brasileiro tricampeão. F1 – O Filme já está nas telonas e tem Ayrton Senna como parte da narrativa, em menções diretas e indiretas.
O filme conta a história de Sonny Hayes (Brad Pitt), um piloto considerado um jovem talento nas pistas nos anos 1990 – inclusive competindo contra Ayrton Senna. As menções ao piloto brasileiro foram um ponto importante do filme, como explica o diretor do filme, Joseph Kosinski, que fez também longas como “Top Gun – Maverick”.
Perguntado pela reportagem do site oficial Ayrton Senna em Montreal sobre as menções ao brasileiro no filme, Kosinski deixou claro a importância desta inspiração para a produção, que teve consultoria direta e constante de um grande fã de Senna, Lewis Hamilton.
“Com certeza, a gente queria mostrar de forma significativa esta importante época da F1, dos anos 1990, que é considerada a grande era da F1, com o som dos motores V12 que dão saudades aos fãs até hoje e, claro, Ayrton Senna, que é o grande ícone deste esporte. É algo que todos os pilotos que consultamos sempre reforçam, em especial Lewis (Hamilton). Era uma ótima oportunidade de colocar no filme e agradar quem entende da história do esporte”, disse Kosinski em entrevista na véspera do GP do Canadá, onde o filme foi apresentado para jornalistas e membros do paddock da F1.
*Atenção: a partir de agora, você vai ler informações que descrevem alguns momentos do filme.
O acidente real que inspirou a ficção
A aparição da McLaren pilotada por Senna, com seu icônico capacete amarelo, não chega a ser um “spoiler”, já que ela acontece logo no primeiro minuto do longa, quando Sonny relembra uma disputa com Senna no GP da Espanha de 1993.
O fictício piloto norte-americano tenta tomar a liderança de Senna, mas comete um erro e sofre um grave acidente. O fã mais atento verá que as imagens usadas para ilustrar a batida mostram um dos acidentes mais impressionantes da F1 nesta época, nos treinos do GP da Espanha de 1990, no circuito de Jerez de la Frontera, com o piloto inglês Martin Donnelly.
Na vida real, Donnelly bateu com violência no guard rail e sua Lotus foi partida ao meio – o piloto foi projetado para fora, preso ao banco do carro e jogado no meio da pista, com as pernas no asfalto. A cena foi muito impactante – o piloto teve parada cardíaca, sofreu diversas fraturas, traumatismo craniano e foi levado ao centro médico – onde Senna “invadiu” a área para acompanhar a recuperação do piloto. Donnelly se recuperou do acidente, mas nunca mais competiu na F1.
Na ocasião, Senna disse que o acidente do inglês em Jerez o fez pensar sobre o esporte. “Quando ouvi que tinha havido um acidente, que era Donnelly, que era ruim, e fui para o local. Um milhão de coisas vieram para a minha cabeça, mas eu concluí que não iria desistir da minha paixão. Eu precisava apenas me controlar, andar e voltar ao carro de novo, fazer melhor do que eu já tinha feito até então. Espero que essas coisas não aconteçam no futuro”, disse Senna na ocasião.
No filme, vemos uma pessoa indo em direção a Sonny Hayes para fazer o resgate. Na vida real, foi Ayrton Senna quem parou seu carro no meio da pista para salvar a vida de Erik Comas, piloto francês que bateu forte na curva Blanchmont da pista de Spa-Francorchamps durante os treinos do GP de Bélgica de 1992. Desacordado, o piloto manteve o pé no acelerador – o que poderia ter graves consequências – até Senna se aproximar e desligar o motor, além de ajudar nos primeiros socorros.

A McLaren de Senna: presente em cena e na história
Além do ano do acidente do personagem ser diferente do “real” (1993 no filme contra 1990), outra licença poética é que o modelo usado na disputa com o personagem de Brad Pitt é, na verdade, a McLaren de 1990, com Senna usando o icônico número 27.
Outra menção aparece justamente quando este carro aparece como decoração do escritório do personagem interpretado por Javier Bardem, Ruben Cervantes. Ele é o sócio da equipe APX GP e que convoca Hayes para voltar para F1 – eles foram companheiros de equipe nos anos 1990 e a dupla era tratada como “jovens promessas” da Lotus, conforme aparece em uma revista exibida por Ruben em determinado momento do filme.
Neste caso, a inspiração em Senna também impressiona por ser também o mesmo modelo da McLaren que está exposta na sede de Senna Brands e do Instituto Ayrton Senna, em São Paulo, com o carro que Senna ganhou após vencer o GP de Monza de 1990 e ganhar uma aposta com seu chefe de equipe, Ron Dennis.

Ayrton: presença constante na trama
Para além das menções diretas, Senna pode ser percebido no filme nas entrelinhas. O personagem de Brad Pitt é destemido, corajoso e muito técnico. Superar os próprios limites é algo inerente de sua personalidade.
Mecânicos da fictícia APX GP se referem aos anos 90 como um período único da categoria. E, como parte da preparação física antes das provas, aparecem praticando corrida de rua junto com os pilotos.
O trabalho em equipe, por sinal, é outro ponto que humaniza a narrativa. Para além dos conflitos entre os pilotos, várias sequencias mostram como o conjunto faz a diferença. E Sonny Hayes é um grande entendedor da mecânica de seu carro – tal qual Senna.
Já na parte final do filme, vemos a catarse de Sonny, um momento de intensa concentração e conexão com o carro e a pista. Um relato bem semelhante ao de Senna no GP de Mônaco de 1988, quando o brasileiro disse estar em “outra dimensão”.
Conexões com a realidade e a história da F1
Apesar de não ser baseado em fatos reais, F1 – o filme mergulha no universo da Fórmula 1 de maneira inédita.
A presença ao longo do filme de alguns pilotos atuais do grid, como Max Verstappen, Hamilton e alguns chefes de equipe, como Zak Brown (McLaren), Toto Wolff (Mercedes) e Fred Vasseur (Ferrari) são um ótimo agrado aos fãs mais apaixonados por F1.
E, claro, o grande destaque das cenas de corrida, filmadas de forma impressionante, passando o realismo das disputas e a forte sensação de velocidade e ação, e também por serem filmadas em GPs reais, acompanhando o calendário real da F1 em pistas icônicas, como Spa e Silverstone.
“O filme certamente terá um grande impacto e trará um público novo para F1”, disse Stefano Domenicali, CEO da categoria, no evento de apresentação do filme em Montreal, destacando sobretudo o enorme potencial de crescimento nos EUA.
O produtor Jerry Bruckheimer destacou este efeito nas pesquisas feitas antes do lançamento: “perguntamos a 20 pessoas quem já tinha assistido um GP de F1. Apenas uma levantou a mão. Aí, exibimos o filme e, após a exibição, perguntamos quem gostaria de ver um GP e todos as levantaram”, disse.
Ainda é cedo para dizer o quanto esta superprodução de Hollywood vai impactar a chegada de novos fãs para o esporte, mas ao colocar Ayrton Senna como a grande referência de seu protagonista, interpretado por Brad Pitt, “F1 – O Filme” mostra que busca atrair esta nova audiência respeitando e reverenciando a longa história da maior categoria do automobilismo mundial.
Texto escrito para o site Senna.com por Rodrigo França, de Montreal (Canadá).
